Desbancarizados: a vez dos “sem banco” no mundo financeiro
De uns tempos para cá, um termo tem ganhado muito destaque no vocabulário do mundo financeiro: desbancarizados. Ele se refere às pessoas que não têm conta bancária ou que não a movimentam há pelo menos seis meses. Esse é o caso de cerca de 45 milhões de brasileiros, segundo um estudo do Instituto Locomotiva divulgado em 2019.
Estima-se que essa população movimente cerca de 800 milhões de reais todos os anos longe das contas bancárias, o que especialistas apontam ser muito prejudicial para a economia. No entanto, o ano de 2020 mudou um pouco esse cenário, principalmente devido ao crescimento do uso de aplicativos de carteiras digitais.
Neste post, explicamos um pouco sobre os desbancarizados e o que eles representam para nossa economia.
Quem são os “desbancarizados”?
Estima-se que um a cada três brasileiros adultos é “desbancarizado”, ou seja, optou por não ter ou não utilizar sua conta bancária. Essas pessoas normalmente são microempreendedores individuais, ambulantes e autônomos que apenas recebem e fazem pagamentos em dinheiro vivo, sem o intermédio de um banco.
A pesquisa do Instituto Locomotiva estima que os desbancarizados sejam 29% da população adulta brasileira. Entre eles, 60% são mulheres, 70% são pretos ou pardos, e 86% pertencem às classes C, D e E. A idade média dessas pessoas é de 37 anos, e a maior parte reside longe das grandes metrópoles.
Os motivos apontados por essas pessoas para não terem conta no banco são diversos. Quase metade dos desbancarizados diz não confiar em bancos, e 29% diz preferir lidar com o dinheiro em espécie.
O que isso significa para a economia?
A principal consequência disso é que essas pessoas não estão inseridas na economia formal, portanto não têm acesso a crédito, empréstimos e financiamentos.
Caso precisem fazer uma compra de um valor um pouco mais elevado, como um eletrodoméstico, precisam pagar à vista. Caso tivessem acesso aos serviços bancários, poderiam pegar dinheiro emprestado ou realizar uma compra parcelada, por exemplo.
Essa necessidade de fazer os pagamentos à vista, sem crédito bancário, faz com que essas compras ocorram com mais dificuldade. Como é uma parcela significativa da população que está nessa situação, isso causa uma estagnação na economia, impedindo a circulação de capital.
O papel dos bancos digitais e das fintechs
Nos últimos anos, as startups financeiras vêm ganhando força e popularidade, especialmente entre a geração mais jovem. São as chamadas “fintechs”, que surgiram com a proposta de facilitar e desburocratizar o acesso a diversos serviços bancários.
Estamos falando principalmente dos chamados bancos digitais, como Nubank, Next, Neon, PicPay, entre outros. Essas instituições não têm agência física, fornecem contas bancárias totalmente digitais, com transações feitas 100% on-line, e têm uma comunicação mais direta e acessível, menos burocracia e taxas de serviço bem mais baixas, ou inexistentes.
50% dos desbancarizados têm entre 16 e 34 anos, e as fintechs costumam fazer sucesso exatamente com esse público. É por meio dos bancos digitais, muito mais acessíveis que os bancos tradicionais, que essa parcela da população vem saindo da economia informal e tendo acesso aos serviços bancários.
A pandemia e o auxílio emergencial
Outro fator contribuinte para que muitos desbancarizados passassem a ter acesso aos serviços financeiros foi a pandemia do novo coronavírus.
Por causa da crise sanitária e financeira, o governo federal passou a oferecer o chamado “auxílio emergencial”, no valor de R$ 600, pago principalmente a trabalhadores informais que ficaram impossibilitados de trabalhar no período da pandemia.
O cadastro e pagamento desse auxílio teve que ser feito, na maior parte, de forma digital e remota, a fim de evitar o contato físico e promover o isolamento social.
Para possibilitar o recebimento desse valor por essa população, o governo utilizou a Caixa Econômica Federal. As pessoas que ainda não tinham conta bancária tiveram uma conta digital aberta na caixa, que podia ser acessada pelo aplicativo celular Caixa Tem, uma espécie de carteira digital.
Graças a esse movimento feito pelo governo e pela Caixa Econômica Federal para pagar o auxílio a esses trabalhadores, uma grande parcela deles deixou de ser “desbancarizado”.
E com a chegada do Pix…
Outra novidade que promete acabar ainda mais com a desbancarização no Brasil é o chamado Pix. O sistema, criado pelo Banco Central, deve entrar em operação em meados de novembro, mas já é possível realizar o cadastro e aderir.
Esse sistema promete facilitar pagamentos, já que será possível enviar e receber dinheiros com muito mais rapidez. O Pix vai permitir que as transferências sejam feitas todos os dias (mesmo em fins de semana e feriados) e em qualquer horário. A ideia é que a transação seja concluída em apenas 10 segundos.
Além disso, para realizar a transferência, não será necessário saber os dados bancários da pessoa. Apenas com um dado como CPF, número de telefone ou e-mail já é possível transferir o dinheiro.
A perspectiva é que o Pix se torne uma forma de pagamento muito utilizada, substituindo transferências por TED e DOC, boletos bancários e até mesmo o uso de cartão de débito. Porém, para utilizar o Pix será necessário ter uma conta em banco, o que pode incentivar alguns desbancarizados a buscarem o serviço.
Perspectivas para o futuro
Com todas essas mudanças no setor bancário, a expectativa é que o número de desbancarizados diminua, e que isso faça a economia voltar a girar após a crise. Porém, para que isso aconteça, é preciso encontrar formas de resolver as dificuldades que essa população terá com a tecnologia.
Como grande parte da população de desbancarizados é das classes C em diante, o ideal é que ocorra um movimento de inclusão digital, buscando democratizar o acesso a essas ferramentas.
Caso contrário, é possível que grande parte dessas pessoas continue passando longe dos serviços bancários.
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